quinta-feira, 23 de abril de 2015

Por uma moda inclusiva

Quando eu era criança eu amava comprar roupinhas, me sentia um máximo.
Roupa de criança parte do pressuposto que crianças são crianças, não têm peito, têm quadril de infantil, são magras (nem sempre), mas mesmo nessa exclusão das crianças gordas (e deficientes, sempre), crianças gordas ou magras não têm peitão, cintura assim ou assado, bunda pra lá ou pra cá e afins, no fim das contas para uma criança gorda de 8 anos você compra uma roupa de criança de 14 e manda fazer a barra. Não é realmente inclusiva e preocupada com o bem-estar das mesmas, mas não é tão traumático quanto ser adulta e tentar se vestir, ah, ser adulta e tentar se vestir...
Antes da revolução industrial, quando você precisava de uma roupa você ia até o seu alfaiate, passava as suas medidas, entregava o pano e ele te dava um prazo de quando a sua maravilhosa roupa ficaria pronta. Depois da revolução industrial, tudo sendo produzido em massa e absurdas quantidades da mesma peça sendo vendidas por aí, teoricamente o mundo da moda teve que fazer uma média das pessoas do mundo e basear seus moldes nisso.
Acontece que as pessoas que estão na média, ainda assim, não estão de fato na média.
Existem mulheres magras que quase não tem peito, bunda e são muito altas. Mulheres magras com bastante peito, sem nenhuma bunda e baixas. Mulheres magras quase sem peito, com muita bunda e estatura mediana. Mulheres nem gordas, nem magras, de peitos enormes e coxas largas, bem baixinhas, enfim... Existe uma infinidade de corpos diferentes no mundo. Uma infinidade de mulheres diferentes. E a ideia doentia de que só um tipo deles é bonito, desejável e merece entrar numa loja para comprar uma roupa e sair de lá feliz e com a auto-estima intocada.
Quando eu pesava 57kgs era bem magrinha para o meu biotipo, tenho pernão, bundão, peitão e sou bem pequena, ombros estreitos, pernas curtas e coisa e tal, mas com 57kgs era definitivamente magra, magra de ter osso aparecendo no peito e no quadril magra, mas sempre me senti gorda, muito gorda. E por quê? Porque toda vez que eu entrava em uma loja para experimentar roupas, tudo que eu vestia tinha um decote compulsório (que geralmente não era para estar ali), as calças que me serviam eram grandes demais e ficavam com uma fenda enorme entre a cintura e a bunda, as roupas não caiam bem em mim e eu sempre tinha que fazer barra nas minhas calças. Isso quando eu pesava 57kgs. Agora eu peso um milhão de quilos  (ou pelo menos é como a industria da moda quer que eu sinta que eu peso), sim, porque depois de engordar alguns quilos, além de não conseguir achar roupas para mim nem nas lojas normais, nem nas lojas plus size, ainda tenho que lidar com o olhar de nojo e dó de atendentes mulheres que são ensinadas a competir entre si, a tentar humilhar qualquer mulher inferior (as mulheres inferiores são as gordas, negras, de cabelos não lisos, as velhas e enfim, qualquer pessoa que não tenha nenhuma representatividade nas passarelas).
Parece que a indústria da moda fez um acordo com a indústria farmacêutica e elas combinaram que nunca faria roupas com caimento perfeito, pra que, principalmente nós, mulheres, sempre nos sintamos um grande lixo e tenhamos que tomar remédio contra ansiedade, contra depressão, pra dormir, pra emagrecer, pro nosso cabelos ser mais liso, pra nossa pele não ter marcar e afins, porque só nesse caso a indústria da moda daria aval para que alguém pudesse se sentir bem.
Sei que precisa de muito feminismo na vida pra passar por isso nas lojas e não sair de lá se sentindo um mamute. Muito feminismo mesmo.
Enfim, você já passou por algo parecido?
Qual o seu biotipo?
Conta pra mim como você se sente sobre isso.
Agora uma imagem nada a ver:

Beijo, beijo,

4 comentários:

  1. Ferdi, sempre passo por isso, odeio comprar roupas, calças pescando, blusas apertadas... Me sinto horrível sempre que saio de uma loja. De certa forma é bom saber que outras pessoas passam por isso, é horrível porque não desejo que os outros se sintam assim também. Mas quando muitas mulheres dizem passar pelo mesmo, você percebe que não tem nada de errado com você ou com elas, você não é um monstro tão bizarro que nem roupas encontra, você é uma mulher, que como muitas outras sofre com essa padronização de corpos que não podem ser padronizados. Todas ou quase todas as mulheres que conheço não se sentem satisfeitas com isso. bjs, gostei do texto

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  2. Eu sempre fui magra com ums bunda e coxas bem grossas. Até os 17 anos era muito magra e chegava ao ponto de me esconder em fotos, pela certeza de ser "tão gorda". Após isso engordei 25 quilos em meio a depressão, anticoncepcional e desventuras da vida. Eu fiquei bem doente devido à qualidade da minha alimentação: virei vegetariana e, como era muito criança e não tinha suporte algum das pessoas proximas, me alimentava basicamente de fast food. Depois de uns 2 dois anos fui então aprender a me alimentar bem (que fique claro aqui que dieta vegetariana não engorda ninguém, uma pessoa que come pizza no jantar todos os dias e coca-cola no café da manhã, sim). Depois de um relacionamento ruim onde perder peso era essencial pra que gostassem de mim e elogios à pessoas magras e padrão eram constantes, decidi: 1 terminar - 2 aprender a me alimentar - 3 tentar gostar de mim. O 1° e o 2° eu consegui, o terceiro é um processo longo que só rola com muito feminismo e autoconhecimento. Até voltar a namorar foi difícil. Depois de varias frustrações conheci esse cara e me apaixonei de cara. Ele, por sua vez, tinha uma barriga tanquinho, só havia namorado pessoas magras e, aparentemente, gostava de mim igualmente. Depois de muito tempo juntos ainda recebo declarações e elogios diários. Ele me ajuda com a alimentação e na busca por uma saúde melhor. Não vou dizer que super me aceito, a parte gordofóbica em mim ainda me impede de estar super bem comigo, mas já é uma mudança gigante. Essa semana, por exemplo, fui à renner, forever 21, zara e todas essas lojas mais baratas pra tentar achar um casaquinho qualquer. Nenhum passou no meu braço sem marcar ou caiu bem. Sempre me faz voltar pra casa frustradíssima. Minha irmã, magerrima e com um peitão, nunca se achou bonita. Tenho amigas que desde os 15 anos tem uma poupança pra "cirurgia dos sonhos".

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  3. Nossa, já passei por tantas situações ruins com relação a roupas que, apesar de ser formada em moda e apaixonada por moda, perdi o tesão em comprar roupas. Não é nem que eu fique com a autoestima abalada, é que é foda gostar de uma roupa e não ter seu número, ou ter o seu número e a modelagem ficar toda errada porque a roupa foi pensada pra gente magra, e tantos outros problemas que rolam...
    A minha solução está sendo voltar a costurar e produzir minhas próprias roupas.

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  4. Eu sou magra e também passo por esse problema. No Brasil o corpo idealizado e imposto pela sociedade não é apenas da mulher magra, mas sim da mulher "gostosa". Acredito que todas nós do jeito que somos podemos nos considerar gostosas, mas não é assim que a mídia faz. Quando vou comprar roupas preciso apelar para os números infantis e me sinto horrível com isso, pois sou uma mulher e não uma criança! Meu biotipo é bem pequeno, tenho coxas finas e peito pequeno, 1,55 e 40kg, tudo em mim fica gigante. Já tentei engordar e comer até passar mal, mas não adianta. Já me senti "menos" mulher por causa disso e me perguntava o que havia de errado comigo para não ter "crescido", para não ter me "desenvolvido" como uma mulher normal. Mas a questão é que eu me desenvolvi da minha forma, assim como todas as outras mulheres, mas com um corpo especificamente meu. O fato de não fazerem roupas pro meu tamanho não significa que eu sou uma criança... Mas é difícil chegar nesse ponto, conseguir se ver dessa maneira. Hoje tenho 22 anos e ainda assim me pego saindo bem chateada das lojas... E desistindo de vez de encontrar sutiãs que me sirvam, por exemplo, porque no Brasil tem essa cultura de que se não tem os seios grandes, então é preciso compra-los! É desanimador como transformam meus pequenos seios em algo insignificante! Enfim, aproveitei pra desabafar sobre isso, sucesso Ferdi.

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