segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Exatamente o que eu quero.

Descobri esses dias, fazendo uma meditação sobre poder pessoal, exatamente a vida que eu quero.
A vida que eu quero não depende só de mim.
A vida que eu quero pode ser vista como um culto.
E sabe o que é?
Eu queria viver numa pequena vila, cercada por montanhas, com todos os comércios veganos, todos os moradores veganos, só pessoas excelentes em seus trabalhos.
Uma comunidade que fosse muito menos centrada em dinheiro e muito mais centrada em dividir.
Um castelinho seria o centro comunitário, onde faríamos poções, banhos e magias.
Nos encontraríamos para confraternizar, comemorar festas, dar aulas, discutir ideias.
Uma vila que tivesse uma padaria vegana enorme e cheia de bolos e tortas e doces e pães de beijo, onde ninguém tivesse que escolher o mais barato, sempre pudéssemos comer o que de fato a gente mais quer.
Um lugar em que eu tivesse uma casa com esse jardim lindo, com um laguinho e uma horta, árvores frutíferas, flores e muitos bichinhos felizes.
Uma vila em que a gente cuidasse de animais, mas não pra abater, pra conviver, pra aprender com eles, entender que se cada um de nós tem um propósito nessa vida, com certeza com eles não seria diferente.
Um lugar colorido e cheio de vida.
Totalmente sóbrio.
Um lugar de natureza exuberante e um monte de gente boa.
Em que todo mundo trabalhasse junto, sem se matar, só fazendo o que precisasse ser feito.
Um lugar mágico e encantado, cercado de floresta e com um rio passando bem pelo meio da vila.
Um lugar calmo e sereno, pacífico, escondido.
É o mesmo sonho de fugir pra floresta, mas agora levar toda uma pequena cidade comigo, porque eu finalmente consegui entender que sou parte de um organismo maior.
Que não tem fugir de humanos, tem sair de situações de abuso.
E que benção não ter que fantasiar em me isolar pra ser feliz.
É impossível ser feliz sozinho.

14 anos

Eu sou muito madura pra minha idade. 
Ou pelo menos é isso que os adultos estão sempre me falando.

Acho legal que me considerem madura, mas pra falar a verdade não sei o que faz eles pensarem esse tipo de coisa, eu não faço nada demais, sabe?
Deve ser porque eu vou bem na escola e meus amigos são sempre mais velhos, eu acho. 
Alguns bem mais velhos, outros só mais velhos.

Por exemplo, meus melhores amigos são a tia Luiza, o tio Sandro e a Mariana.
Tia Luiza é quarenta anos mais velha que eu, o tio Sandro é trinta e poucos e a Mariana é sete anos mais velha, não parece muito, mas quando a gente tem quatorze anos, ter uma amiga de mais de vinte é meio emocionante, porque ela já passou da adolescência, mas não a tempo suficiente pra esquecer o quanto é difícil lidar com as coisas mais pequenas e aparentemente estúpidas, tipo o quanto as pessoas te ridicularizam na escola, ou ser muito mais magra e baixa do que absolutamente todo mundo que você conhece.

A Mariana me conta que na época dela de escola ela também sofreu muito com os colegas, mas porque ela é negra. Absurdo, né?

A gente nunca pode ser magra, gorda, negra, sei lá, a gente não pode ser nada, a gente tem que ficar tentando agradar os meninos senão eles te empurram e te xingam e ninguém da escola faz nada, tratam com a maior naturalidade as meninas da minha sala terem que ir de batom e se fazendo de a bonita ou a sensual ou sei lá mais o quê, com quatorze anos de idade, porque se elas não fizerem isso os meninos acham que tem o direito de nos humilhar, sei lá, eu gosto muito de estudar e aprender coisas, mas eu odeio muito a escola.

Mães & filhos

Preto e branco, as patas e o nariz cor-de-rosa, ele tava caçando uma bolinha de papel que eu tinha feito com um rascunho de rabisco.
Devia ser fácil ser um gatinho, gordinho e rosado, que brinca o dia inteiro com bolinhas, come e dorme.
Isso se a gente romantizar e simplificar toda a existência do gato, claro.
Isso se a gente fingir que gatos não se assustam, não sentem raiva e nem morrem de medo de ser abandonados, isso se a gente ignorar ou não acreditar que gatos são seres cheios de magia, seres que têm a capacidade de limpar as energias ruins do ambiente, eles puxam tudo pra si e depois lidam com todas as coisas horríveis que os humanos sem querer trazem pra casa.
Nada é de fato fácil ou simples, nem ser um gatinho ou um leão, nem ser uma planta ou um gás.
Menos simples que isso é ser alguém que não confia na própria cabeça.
Quando eu tinha 14 anos fui diagnosticado com transtorno paranóico esquizofrênico.
Desde então eu não confio mais nas coisas que as pessoas, que as outras pessoas não enxergam, me dizem.
Não confio porque, assim como pessoas que existem, as que só existem na minha cabeça também gostam de me enganar e assustar, só pra ver minha reação ou rir de mim, não sei.
Sei que só tem uma ou outra pessoa que não existe que eu confio e gosto, uma delas é o meu avô, eu sei que ele morreu antes de eu nascer, mas ele voltou pra mim em forma de alucinação e cuida de mim como meu pai cuidaria, se não tivesse me abandonado, meu avô faz tudo por mim e sorri toda vez que me vê.
Outra pessoa que só existe pra mim e que por acaso eu consigo confiar é a Julia. Ela é minha namorada.
Vi ela pela primeira vez na escola, estava sentada em um banco, debaixo de uma árvore, lendo o meu livro preferido e ouvindo meu disco predileto (Franny & Zooey e Narrow Stairs, respectivamente), desde então a gente não se desgruda. Eu acho meio chato que ela só aparece pra mim quando ela quer, mas é sempre um alívio ver o rosto que eu fantasiei tão perfeitamente pra me agradar.
Antes de eu ser diagnosticado, minha mãe me tratava como o filho excêntrico, engraçado, criativo e que falava sozinho às vezes, porque, segundo ela, eu era inteligente demais.
Ela estava sempre me justificando pra todo mundo como podia, me amava muito e detestava que falassem coisas sobre mim. 

Mas desde que disseram pra ela que eu tinha uma doença mental ela decidiu que tudo que já tinham falado sobre mim era verdade, que eu tinha enganado ela propositalmente durante todos esses anos, ela passou a me odiar e me ressente como se eu, de propósito, tivesse matado o filho dela. 
Falar sobre isso me deprime muito, porque eu só tenho 17 anos e ainda sou obrigado a morar com ela, minha própria mãe que me trata como o pior inimigo dela.

Nunca apresentei a Julia pra ela porque eu sei que ela é uma alucinação, mas parece que cada vez que ela vê que eu estou vendo a Julia fica com mais e mais ódio de mim.
É como se eu tivesse uma doença de propósito, só pra fazer ela sofrer. 

Às vezes eu deito de noite e fico fantasiando que o meu pai voltou, que ele só foi embora porque, sei lá, teve que salvar o mundo, porque ele enxerga pessoas invisíveis que nem eu, que na verdade eu não tenho uma doença, tenho um dom e vou salvar o mundo. Só que pensar isso me deprime, porque eu sinto como se tivesse traindo o meu avô, que é e sempre foi o meu pai de verdade.

Olhar o gato se espreguiçando enquanto toma sol me faz sentir bem de novo e parar de pensar nessas coisas. 

Pego uma roupa no armário e entro na minha banheira quente, a água me envolve e meu corpo se aquece lentamente, Dr. Fofloco bate com a patinha na água e se arrepende imediatamente, saindo do banheiro.

Queria poder nunca parar de tomar banho, ficar aqui na água sempre quentinha, sempre perfumado, longe de todo mundo, só eu, a água e, às vezes, o Dr. Fofloco com sua carinha de surpresa e nariz rosa. Eu gosto de ler no banho, mas isso já me fez perder muito mais livros do que eu gostaria, então me limito a olhar pro teto de geso com adornos florais e pensar nas pessoas que têm habilidade com as mãos, esculturas, pinturas... Eu sempre tento desenhar, mas não acho que nunca na minha vida tenha feito um desenho. Fiz rabisco, rabisco eu fiz, desenho nunca.

Às vezes, eu me pergunto o que a Julia vê em mim, eu sou louco, não tenho amigos e não sou nada bonito. Isso é outra coisa que mudou desde o meu diagnóstico. Todo mundo vivia me dizendo que eu era bonito, lindo, muito apresentável, um rapaz muito charmoso, essas coisas, mas, depois que fui diagnosticado, ninguém nunca mais me elogiou, nem pessoas, nem o espelho. Minha mãe me odeia mais ainda, agora que eu sou feio.


- Queria saber de onde você tira essas ideias.
- Que ideias?
- Isso aqui é algum trabalho de escola?
- Isso é o meu diário, mãe, larga o meu diário.
- Diário? Você tá dizendo aqui que não tem pai, não tem avô e nem namorada, que você é esquizofrênico, que eu te odeio, que diário é esse?

Meu filho começou a chorar e correu pro quarto.
Eu leio um negócio perturbador desses e, ao invés de me contar porque escreveu aquela porcaria, meu filho começa a chorar e vai se esconder no quarto.
Que que eu fiz pra merecer um filho desses?

Assim que o pai dele chegar eu falo essas histórias e esse menino vai levar uma coça, eu quero ver ele me acusar de odiar o meu próprio filho de novo. Eu quero ver.
Anastácia saiu da cozinha perturbada, triste, sem entender o porquê de ter lido as coisas do filho, ela nunca fazia isso, agora tinha feito e estava se sentindo desse jeito, sem entender nada, sem poder confiar na própria cabeça. 

Era um inferno ser Anastácia, ela odiava ser Anastácia e amava ser Lucas, era Lucas que ela era, que ela sempre quis ser, era Lucas que tinha clareza de ideias, que as pessoas respeitavam, que o filho era normal, era engraçado, Anastácia queria ser Lucas, mas não era, só tinha sido duas vezes e ela não lembrava bem como, nem quando, nem o que ela tinha que fazer pra conseguir se sentir sob controle de novo.

Era só preparar a janta, era só picar os legumes, colocar manteiga na panela, jogar a cebola, deixar tudo refogadinho, cheiroso e nutritivo, era só ela comer uma refeição quente e confortante, aí ela podia chamar o filho dela do quarto, tudo ia ficar bem, ela ia entender as coisas de novo.

Ainda bem que eu lembrei de lembrar da comida, a comida é muito importante.
Os temperos estalando, o cheiro de arroz fresco, sorte que a gente tem o que comer.
Que Deus nunca nos deixe faltar comida, amém.

Anastácia refogou berinjela com cebola e pimentão, fritou um ovo e fez arroz fresco:
- Desce, filho, tem comida.

O menino desceu assustado e triste, ele sabia que a mãe odiava ele, mas confundir mais a cabeça dele, dizer que ele tinha um pai, que tinha avô, que tipo de brincadeira doentia era aquela? E agora preparara uma janta, tinha chamado animada, feliz.

- Já já seu pai vai chegar.
- Mãe, para.
O telefone tocou, minha mãe esticou a mão pra atender e saiu da sala cochichando.
Ouvi ela soluçar, toquei seu ombro:
- Mãe?
- Eu vou ser presa, eu vou ser presa, eu vou ser presa.
- Mãe, como assim, olha pra mim, fica calma, presa por quê?
- Porque descobriram.         

Julgada

Eu cresci em um ambiente de muita gente.
E como qualquer lugar com muita gente, tinha gente boa e gente ruim.
E as pessoas ruins que me cercavam, como a maioria das pessoas ruins, me julgavam muito.
Muito mesmo. Desde a mais tenra idade.
Desde que eu tenho memórias.

Quando você é constantemente criticada antes mesmo de entender o que é uma crítica, você tende a acreditar nas pessoas ruins.
"Você é ruim", "Você é feia", "Você é teimosa", "Você é irritante", "Você é gorda".
Nada dessas coisas eram reais porque eu não tinha nem tamanho ou oportunidade pra ser nenhuma dessas coisas, eu tinha acabado de chegar no mundo.

Mas quando um adulto fala pra você, uma criança pequena, que você é todas essas coisas você simplesmente acredita. Afinal de contas é um adulto, um ser responsável.
E ele não diria essas coisas se não fossem verdade, certo?
Eles não fariam isso, são adultos, afinal.

Eles só estão tentando me proteger e me ajudar a descobrir quem eu sou.
E por acaso eu sou uma criança que nasceu ruim, feia, teimosa, irritante e gorda.


Ao longo da vida fui descobrindo que era outras coisas também.
Por exemplo eu era extremamente desafinada, e não importava que meu tio que era músico há mais de 40 anos dissesse que não, que minha voz era linda e que eu cantava muito bem.
Porque a lógica que eu utilizava na minha cabeça de criança era que elogios podem advir de gentilezas, críticas essas sim tem mais peso e são mais reais.

Porque pra que alguém sairia do seu caminho pra tentar influenciar a vida de uma criança, se não fosse por amor e preocupação?
Ninguém é tão desocupado e amargurado assim.
Ainda mais uma pessoa da sua família.
Certo?

Errado. Tem gente que é sim.
Tem muita gente que é.

E a gente, como os adultos de agora, temos que lembrar quanta gente continua sendo assim.
E o quanto as crianças não falam.
Geralmente não adianta perguntar, o que mais dói na criança é o que ela mais vai esconder, principalmente se você for uma referência positiva na vida dela.
Ela não quer que você também ache que ela é ruim, feia, teimosa etc

Com crianças que somos guardiões então o que a gente pode fazer?
A gente deve adivinhar.
A gente deve sentir.
A gente deve intuir.

É por isso que colocar uma vida nesse mundo é uma responsabilidade tão grande, porque não cabe só a você educar, você tem que se conhecer tão bem, estar tão sincronizado com a sua própria essência, sentimentos e intuição que você é capaz de adivinhar quando alguém está propositalmente tentando sabotar a vida do seu filho. Quando alguém está sendo cruel com um serzinho que acabou de chegar no mundo.

O cuidador de uma criança precisa ser sobrenatural, mágico, pra conseguir protegê-la.
E não se engane, ele tem que protege-la.
Falhar em fazer isso é falhar como ser humano.

Não, traumas não criam caráter, pelo contrário, eles atrapalham e às vezes até impedem a pessoa de alcançar suas potencialidades.

Uma pessoa ruim é uma pessoa muito poderosa.
Porque a gente evoluiu pra temer o ruim, porque a gente precisa sobreviver e a melhor estratégia de sobrevivência é evitar o que faz mal.

Correr do que faz mal.

Não pode bater, não pode gritar e também não pode deixar os outros baterem, não pode deixar os outros gritarem. Não pode.

Será que é sequer possível estar preparado pra tanta responsabilidade?


Imagens.

São capazes de evocar tantas emoções.
Acabei de postar um compilado de coisas, momentos que eu amo no Minha Janela Aberta, fotos que estavam perdidas pelo meu celular e computador.
Fotos que eu tirei sem pensar na beleza, no enquadramento, fotos de família, sabe?
Fotos pra lembrar de momentos.
É tão bonito ver a vida passando pelos enquadramentos que eu decidi guardar.

Esses dias uma moça estava falando num vídeo do tiktok que muitas vezes a gente esquece que além dos personagens principais da nossa própria vida, nós somos também os diretores.
E todo o lugar que a gente decide olhar, decide dedicar nossa energia para, é a direção da nossa vida.

Se você decide focar no que é duro e feio na sua vida, quando for morrer é disso que vai lembrar.

Esses dias eu tentei me reaproximar de um amigo, um amigo que eu conheço desde os 11 anos e que eu não falo com há 6.
Mandei uma mensagem, chamei ele pra sair pra conversar e ele não respondeu.

Quando eu conheci ele, eu tenho certeza que estaria arrasada, aliás há 6 anos atrás também, teria me perguntado um monte de coisas. O porquê.
E a real é que eu não tenho nada a ver com isso.

Fiz o que parecia melhor pra mim, senti saudade de alguém e contatei essa pessoa.
O resultado disso só voltaria a ter alguma coisa a ver comigo no momento que ele me respondesse.
Como não respondeu eu só deixei pra lá.

É engraçado crescer.
Tem gente que envelhece e não cresce, porque muito diferente do que muita gente pensa, não basta continuar vivo pra crescer.
Você tem que escolher crescer, todos os dias.
E cada dia que você deixa pra lá, você deixa de crescer.
É um esforço grandioso tentar aprender de fato com a vida.

Eu nunca pensei que um dia conseguiria não sofrer pelos outros.
Nunca acreditei que um dia ia conseguir entender que eu não tenho controle de nada e que isso é uma benção sem tamanho.
Acho que eu nunca tive fé.

Fé, essa palavra tão mal interpretada.
Ter fé não é ficar de bobeira e achar que tudo vai se ajeitar, ter fé é fazer tudo que você pode, consegue e acha certo e ter certeza que o que está por vir só pode vir pro bem.

Sabe aquilo que falam que o que não dá certo vira aprendizado?
Eu diria que absolutamente tudo dá certo.
Aprendizado é a melhor coisa que a gente pode levar dessa vida.

Aprendizado e amor.
Aprendizado e bons momentos com as pessoas que você ama e é só isso.
Esse é o propósito da vida.
Viver e ter coisas que te fazem tão feliz que você tem até vontade de tirar uma foto pra registrar aquele momento. E às vezes você tira mesmo, outras você só curte.

Eu lembro de tirar fotos mentais de coisas quando eu era criança, eu não tinha uma camera, mas eu parava e pensava "vou lembrar desse momento" e guardava um frame. 
Tenho até hoje eles guardados aqui.


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Ser eu mesma.

Mas o que é ser eu? Como que eu vou saber?
O eu é o que sobra quando acaba o medo.
O medo de se olhar, o medo da rejeição e da insuficiência.
O medo da solidão.

É solitário ser você, porque pra isso é necessário abdicar do que você construiu na sua mente sobre você, da identidade que você projetou pra ser amado.
E nem todo mundo consegue ou quer.
E quando as pessoas não são elas e você é, elas se sentem expostas, vulneráveis.
E ninguém gosta de se sentir vulnerável.

Não é nem consciente, só bate aquele sentimento de inquietação.
E eu só sei disso porque passei anos me deparando com essas pessoas que ousavam ser elas mesmas e era extremamente desconfortante.

É tipo como as pessoas se sentem quando elas descobrem que eu sou vegana.
"Você acha que você é melhor que eu?". Nem acho, não acho nada.
"Quem você pensa que é pra não precisar se esconder?".
Eu morria de medo de ser abandonada pelas pessoas que eu amava, mesmo no fundo, no fundo sabendo que elas não me amavam de volta.

Uma vez essa pessoa que era importante pra mim me confrontou por ter escrito uma carta.
Uma carta que eu nunca escrevi.
Ele não acreditou em mim quando eu falei que não tinha escrito e na época eu fiquei ofendida, pensava "eu não minto". E a verdade é que não mentia mesmo, não sobre nada, mas mentia o tempo todo sobre quem eu era.

O que eu queria.
O que eu sentia.
O que me incomodava.
Meus medos, minhas vontades.
Eu só queria ser amada.
É o que a maioria de nós quer.

Mas o engraçado é que o amor que a gente recebe nunca é o "que a gente queria".
Se sua mãe te ama "ah, mas porque ela é minha mãe".
Ignorando a sorte que é ter uma mãe que te ama.

Se seu avô te ama "ah, mas ele é obrigado".
E ninguém é obrigado a amar ninguém.
E mesmo que fossemos obrigados por lei, amor não é algo que se escolhe.
A gente só ama.

Amar nos faz reféns.

Acabei de ler um texto em que aparentemente meu avô estava bravo comigo e fiquei muito confusa, porque não lembro do meu avô bravo comigo.
Mas se eu escrevi é porque aconteceu, eu sempre reconheço meus textos autobiográficos.
E aparentemente ele ficou, mas agora não está mais.

Tenho passado bastante tempo com meu vô e meu pai. Tem sido muito bom.

Eu parei de desejar ser amada por quem não me ama, me agarro a todo o amor que recebo e tento deixar sempre claro o quanto sou grata e amo de volta.

Sofrer é uma filosofia de vida, filosofia ruim. 
Não é opcional quando a gente ainda é jovem e confuso, mas com o tempo se torna uma opção.

E eu realmente cansei de sofrer por bobagem.
A vida já tem baixos demais pra eu ficar inventando moda.